Indústria do tapete persa luta para sobreviver
Profissionais do ramo disseram à Folha que a queda resulta, em grande parte, do acirramento das san??es econ?micas ao programa nuclear impostas pelas potências ocidentais durante o governo do presidente Mahmoud Ahmadinejad (2005-2013). San??es também derrubaram o valor da moeda iraniana em rela??o ao dólar, o que encareceu drasticamente a aquisi??o de matérias-primas importadas, como seda e l?. "Americanos dizem que o alvo das san??es é o governo, mas elas afetam só a popula??o. Tapetes n?o têm nada a ver com política ou energia at?mica", queixa-se Ali Lahouti, da Associa??o de Exportadores de Tapetes. Ele defende que Teer? deveria processar o governo dos EUA pelo embargo ao setor. Tapetes também sofrem com a conjuntura adversa, na qual a crise econ?mica em mercados tradicionais, como Europa e os países palco das revoltas árabes, soma-se à concorrência de produtos fabricados na ?ndia ou na Turquia, muito mais baratos. "Um tapete persa feito à m?o é uma cria??o única, um produto gerado por artistas que às vezes passam anos tecendo a mesma pe?a", diz o vendedor Hossein Hosseiny, 31, cuja família atua no ramo há três gera??es. "Ninguém em s? consciência ousaria comparar a sofistica??o e a qualidade dos tapetes persas com a dos rivais", afirma Hosseiny. Ele acusa indianos e turcos de copiar modelos e motivos do Ir?. Os iranianos, porém, continuam líderes mundiais no ramo de tapetes feitos à m?o. PA?S EM MUTA??O Para além das tens?es com o exterior, o declínio dos tapetes também reflete mudan?as sociais que est?o transformando o Ir?. Em busca de uma vida melhor, filhos de tecel?es vêm há décadas migrando em massa do interior para as grandes cidades. Como a profiss?o carece de regulamenta??o, tecel?es às vezes trabalham em condi??es precárias e sem direitos trabalhistas. A escassez de m?o de obra agravou-se nos últimos anos, segundo o exportador Lahouti, devido às iniciativas populistas de Ahmadinejad, que instaurou sistema de remessas mensais em cash equivalentes a cerca de US$ 20 para cada cidad?o iraniano. "Imagine uma família de sete pessoas morando no interior, onde a vida é mais barata. Se todos recebem quantia garantida a cada mês, eles n?o veem motivo para produzir tapetes", diz o exportador. Com menos profissionais, também se perde o saber dos grandes mestres tecel?es. "Nenhum jovem tem paciência para seguir carreira até se tornar um grande artista, capaz de produzir uma obra prima como esta", diz Hosseiny ao exibir uma pe?a de pura seda fabricada há 60 anos, cujos motivos simbolizam as quatro esta??es. Avaliado em US$ 20 mil, o tapete é um dos mais valiosos de sua lojinha no bazar de Teer?, maior concentra??o de tapetes no mundo. Há registros de obras-primas do século 17 vendidas em leil?es no Ocidente por milh?es de dólares. Vendas domésticas também est?o em queda, por causa da disparada nos pre?os, num país com infla??o a 39%. Famílias que antes apostavam em tapetes como investimento hoje optam por imóveis, dólares ou ouro. ALARMISMO Alguns peritos n?o compartilham do alarmismo dominante. Ali Reza Ghaderi, fundador de um site que incentiva reflex?o e coopera??o entre profissionais do setor, atribuiu o declínio à explos?o de uma bolha gerada por excesso de oferta. "Após a guerra [com o Iraque, 1980-88], muita gente entrou no ramo para ganhar dinheiro. O mercado inflou e a qualidade baixou. Agora, quem n?o tem raiz no setor está pulando fora. Estamos voltando à perfei??o", afirma Ghaderi, que n?o acredita na extin??o das técnicas. "Tapetes s?o para nós o que é o samba para brasileiros. N?o há regras escritas, é um patrim?nio cultural", diz. O setor também se ampara no otimismo com a elei??o do presidente Hasan Rowhani, que lan?ou esfor?os para se reaproximar do Ocidente. 相关资料 |