葡语阅读:葡萄牙语讲述历史7

全国等级考试资料网 2023-07-30 13:20:41 59

CABANAGEM

Introdução

O movimento conhecido como Cabanagem desenvolveu-se no Grão-Pará; os episódios principais deram-se na cidade de Belém e nos sertões de Acará e de Cametá.

Os grandes espaços e a fisiografia hostil dificultaram o conhecimento da área norte do país e a civilização ficou restrita às margens dos cursos d’água. O clima equatorial, quente e úmido, e a vegetação exuberante, dificultando os movimentos por terra, constituíram outros fatores que restringiram a conquista da região.

As ligações difíceis e demoradas com a capital do país levaram os portugueses a pretender, mesmo depois da Independência, manter o controle da área.

A foz do Amazonas apresenta especial importância para o controle da região; os conquistadores compreenderam isto e procuraram construir ali fortificações e estabelecer povoações que garantissem a manutenção do domínio.

A segurança de Belém e das vilas próximas era motivo de preocupação para o Império, tanto quanto o extremo sul, em razão dos interesses estrangeiros.

A população da Província, em meados de século XIX, era de cerca de 150 mil pessoas e constituída basicamente de mestiços e índios, com participação minoritária de brancos e negros. O mestiço, descendente de branco e índio, era o elemento ativo na vida provincial, caracterizando-se por seu temperamento calmo e franco e por sua devoção religiosa. As condições de vida tornaram-no desconfiado, obstinado e deram-lhe sobretudo um sentimento de frustração ante o colonizador português, conquistador vitorioso, envolto em privilégios na ordem política e social e cheio de desprezo pela população local; membro da minoria espoliadora capaz apenas de ver interesses pessoais e lucros financeiros.

As relações entre o nativo da região e o português eram tensas e os pontos de vista antagônicos e inconciliáveis.

Notícia da Abdicação chega a Belém.

As dificuldades de comunicação retardaram sobremodo a chegada de notícias da capital do Império à distante Província do extremo norte brasileiro. A notícia sobre a resolução de D. Pedro I que abdicava em favor do filho conheceu-se em maio, causando grande excitação popular a esperança de que viriam melhores dias com o afastamento dos lusitanos.

Agitou-se principalmente a Câmara Municipal de Belém, e o Cônego João Batista Gonçalves de Campos solicitou o afastamento do Comandante das Armas, Brigadeiro Francisco de Sousa Soares Andréa, por considerá-lo ligado aos interesses lusitanos, mas não conseguiu obter seu intuito. Os portugueses, inconformados com a derrota e vendo seus interesses ameaçados, procuraram por todos os meios a manutenção dos cargos, buscando, inclusive, o apoio da tropa.

Rebelião do 24º Batalhão de Caçadores (BC).

Insufladas por elementos nativistas, as praças de 24º BC, que então tinha sede em Belém, revoltaram-se a 2 de junho de 1831 contra os superiores e o governo local, exigindo sua renúncia. A ação imediata do Comandante das Armas, reunindo as unidades fiéis e adeptos civis, abortou o movimento, trazendo grande desalento às forças nativistas. A indisciplina porém persistiu, levando o governo provincial a aceitar a proposta de um português, Marcos Rodrigues Martins, para criar um corpo de guardas.

Deposição do Visconde de Goiana.

A Regência, em abril, determinou a substituição do Presidente da Província e do Comandante das Armas. O fato trouxe novas agitações ao Pará devido à pressão exercida pelos reinóis no sentido de que o Barão de Itapicuru-Mirim (Tenente-Coronel José Félix Pereira Pinto Burgos) permanecesse no cargo, evitando que assumisse o governo, temporariamente, o Cônego Batista de Campos, substituto legal.

Finalmente, em 16 de julho, chegaram as novas autoridades nomeadas. Eram o Dr. Bernardo José da Gama, Visconde de Goiana, Presidente, e o Coronel José Maria Silva Bitencourt, Comandante das Armas. Ambos eram brasileiros natos e conquistaram logo a simpatia dos nacionalistas, mas o Coronel Bitencourt deixou-se envolver pela política local, particularmente pelos lusos, e o Visconde de Goiana, aos poucos, viu-se desprestigiado, notadamente por sua postura liberal. As provocações lusas envolveram a tropa e, em agosto, os distúrbios se agravaram. As unidades militares rebeladas, com a conivência do Comandante das Armas, exigiram a renúncia do Presidente, que, com 18 dias de governo, embarcou para o Rio de Janeiro na fragata Campista, tendo os rebeldes colocado no governo o Dr. Marcelino José Cardoso, o mais antigo dos conselheiros, que determinou o exílio de vários nacionalistas, entre eles o do Cônego Batista de Campos (para São João do Crato), a quem de direito cabia o governo da Província.

Sangrento 16 de abril.

A necessidade de providências enérgicas no norte do país obrigou a Regência a escolher um liberal de grande talento e idéias avançadas - Coronel José Joaquim Machado de Oliveira - para a presidência da Província, o qual, com o objetivo de pacificar os ânimos, autorizou o retorno dos exilados pelo governo anterior, inclusive o Cônego Batista de Campos.

Ao retornar do exílio, o sacerdote publicou um manifesto proclamando um governo autônomo, com a divisão do Grão-Pará em duas administrações distintas.

Os meses finais de 1832 e os primeiros de 33 foram sombrios para a Província. As disputas políticas locais ampliaram-se com a nomeação dos novos Presidente e Comandante das Armas, respectivamente o Desembargador José Mariani e o Tenente-Coronel Inácio Corrêa de Vasconcelos, ambos identificados com os restauradores, apelidados de caramurus. A agitação culminou com violentos atritos entre liberais e conservadores, aqueles por insistirem em manter no poder Machado de Oliveira, estes para que Mariani assumisse. Mais uma vez as Forças Armadas foram envolvidas. A maioria das unidades colocou-se ao lado das idéias nacionalistas, defendidas pela corrente liberal, apoiando Machado de Oliveira, que, insistentemente, procurava solução legal para o impasse.

Os liberais, no entanto, não aceitavam conciliação com os retrógrados caramurus, e estes encabeçaram violenta reação, buscando o apoio da Marinha de Guerra, particularmente em armas e munição. A situação era difícil. A custo Machado de Oliveira mantinha a ordem na tropa. As violências e ameaças dos caramurus contra os liberais levaram-no a acatar a decisão da Câmara Municipal, a qual determinava que se informasse à Regência o estado de coisas.

As forças terrestres compunham-se do 16º BC, do 5º Batalhão de Artilharia de Posição, de uma Companhia de Guardas Municipais (com 100 homens) e de um Batalhão da Guarda Nacional (com quatro companhias na capital e quatro no interior).

Os caramurus, inconformados, defenderam a posse do novo Presidente pelas armas e, em sucessivas reuniões, instaram junto a ele para que assumisse o poder à força.

Por fim, a 16 de abril estourou o conflito, envolvendo os líderes portugueses chefiados por Afonso Jales, e as autoridades provinciais. A população amedrontada, no início do tiroteio, procurou proteção no 25º BC. O Presidente, à frente dos habitantes locais, dominou a rebelião.

Diante dos fatos ocorridos e atendendo à solicitação da municipalidade Machado de Oliveira permaneceu no cargo até 4 de dezembro, sendo substituído por Bernardo Lobo de Sousa. Por Carta imperial de 5 de setembro de 1833 foi nomeado Comandante das Armas o Coronel Joaquim Silva Santiago.

O novo Presidente Lobo de Sousa iniciou a administração de forma conciliadora, publicando o decreto regencial que anistiava todos os envolvidos em comoções políticas. Reintegrou ao serviço público vários elementos suspensos. A par dessas medidas, procurou sanear a vida pública com o pagamento pontual à tropa, com a reforma e construção de estradas, com melhoria do abastecimento e com a moralização na cobrança de impostos. No âmbito militar, recompletou as unidades mediante recrutamento de novos contingentes. Estes fatos provocaram descontentamento.

Apesar das acertadas providências do governo Lobo de Sousa, um grupo liderado pelo Cônego Batista de Campos, que já se indispusera com o Presidente, começou a conspirar na capital e no interior, conseguindo aproximar-se do antigo adversário, Coronel Félix Antonio Clemente Malcher, oficial de segunda linha, proprietário de uma próspera fazenda na localidade de Acará, onde gozava de grande prestígio.

Juntamente com outros elementos influentes, os insurgentes tramaram a derrubada do Presidente. Reuniram armas e munições e arregimentaram adeptos para a revolução, destacando-se Eduardo Francisco Nogueira (o Angelim) e os irmãos Vinagre - Francisco Pedro (Tenente do 1º Batalhão da Guarda Nacional), Antônio, Raimundo, Manoel e José. O movimento alastrou-se pelas redondezas e o governo provincial, preocupado com os boatos, determinou a organização de uma expedição militar para pacificar o vale de Acará. A 19 de outubro de 1834, o Major José Nabuco de Araújo iniciou o deslocamento da força,embarcando em navio da Esquadra. O destacamento atingiu a fazenda Vila Nova e antes da chegada dos reforços o Presidente foi surpreendido, na madrugada de 22, por um grupo de revoltosos chefiados por Francisco Pedro Vinagre e Angelim que assassinaram o major e três homens.

O insucesso e os boatos de que os revoltosos se dirigiam para a capital fizeram com que o governo aprestasse a defesa da cidade, determinando ao Coronel Sebastião de Melo Marinho Falcão, comandante da Guarda Nacional, que enfrentasse os sediciosos. Estes, ao comando de Malcher, dos irmãos Vinagre, de Angelim e outros, ultimavam a arregimentação dos caboclos para marcharem todos sobre a capital, a fim de depor as autoridades provinciais.

Organizou-se nova expedição de forças legais sob o comando de Marinho Falcão, com grandes dificuldades pois os guardas nacionais insubordinaram-se e negaram-se a integrar a coluna. Contornados os empecilhos, a expedição partiu para a região e, depois de sofrer uma emboscada em que morreu o comandante, atingiu a fazenda Acará-açu, abandonada pelos correligionários de Malcher.

O comandante da expedição naval, Capitão-de-Fragata James Inglis, assumiu a direção das operações. Mandou atear fogo às construções vazias e determinou que as patrulhas vasculhassem a região, sendo presos Malcher, Raimundo Vinagre e outros. Manuel Vinagre foi morto. O Cônego Batista Campos permaneceu foragido, acobertado pela população e pelas autoridades locais, vindo a falecer, de enfermidade, a 31 de dezembro do mesmo ano.

Apreensivo com a segurança de Belém, o governo provincial decretou o recrutamento de mais um contingente de guardas nacionais, adquiriu material bélico, reformou as fortificações e fez recolher o armamento em poder da população.

Belém em poder dos Cabanos.

A chama da rebelião, no entanto, não se apagara. Apesar de morto o Cônego Batista Campos, os seguidores não interromperam o aliciamento de partidários, particularmente entre os guardas nacionais e entre os cabanos, que eram pessoas humildes, assim chamadas em virtude das choupanas rústicas que habitavam.

O governo local não acompanhou de perto a evolução do movimento, que contava com a participação de militares. A 7 de janeiro de 1835, os rebeldes invadiram Belém, chefiados por Antônio Vinagre e por João Miguel de Sousa Aranha, e dirigiram-se ao quartel do Batalhão de Caçadores, ao quartel da tropa de artilharia e ao Palácio do Governo. Os revoltosos assassinaram o Comandante das Armas Major Joaquim Silva Santiago, o Presidente Lobo de Sousa (morto pelo cabano Domingos Onça) e o Comandante da Força Naval James Inglis.

Os cabanos, vitoriosos, retiraram Malcher da prisão e o aclamaram Presidente da Província. Ofuscado pelo mando, Malcher entrou em conflito com os irmãos Vinagre e Nogueira, ocorrendo entre eles luta armada às 11 horas do dia 19 de fevereiro de 1835, da qual saíram perdedores os partidários de Malcher. Este conseguiu refugiar-se a bordo da brigue Cacique e persuadir a guarnição a atirar contra a cidade. Diante da resistência dos que se encontravam em terra, resolveu-se negociar a paz. Ficou acertado que Francisco Pedro Vinagre assumiria a Presidência da Província, sendo em seguida reconhecido pela Câmara Municipal. A seguir, combinou-se a transferência de Malcher, a bordo do Cacique, para a Fortaleza da Barra. Nesse percurso o cabano Quintiliano Barbosa matou-o com um tiro no peito.

Francisco Pedro Vinagre estabeleceu, de imediato, medidas capazes de fortalecer o seu dispositivo, aumentou o número de guardas permanentes para três companhias e designou elementos de confiança para o comando da força. Tomou logo providências para que as tropas fossem pagas e para que os cabanos fossem desarmados. A 16 de março deu conhecimento à Regência sobre os acontecimentos em Belém.

A guarnição da Marinha manteve-se em expectativa, já que Vinagre inspirava sérias preocupações. A oficialidade da Armada dirigiu-se ao Presidente do Maranhão, dando ciência da evolução dos acontecimentos no Pará.

Vinagre tentou com insistência desarmar os navios de guerra, mas foi sempre repelido pelos oficiais, que aguardavam em seus postos as providências dos escalões superiores para o restabelecimento da ordem pública.

A solicitação dos oficiais ecoou de forma positiva no Maranhão. O Presidente da Província organizou uma expedição naval sob o comando do Capitão-Tenente Pedro da Cunha, que partiu a 12 de abril para Belém. Ela foi calorosamente recebida e o seu comandante logo conseguiu o adequado aparelhamento de todos os vasos de guerra.

Tentativas de Pedro da Cunha para pacificar a Província.

Chegando ao Pará, Pedro da Cunha iniciou gestões junto ao chefe cabano para a pacificação da Província e a reimplantação da lei e da ordem. Por reconhecer, talvez, a inferioridade e inadequação das forças para uma ação imediata, procurou entender-se com os rebeldes através de correspondência, por vezes cortês, por vezes amarga. Com o passar do tempo, Francisco Pedro Vinagre verificou que os que o cercavam não estavam dispostos a entregar o governo ao substituto legal, o deputado mais votado, Dr. Ângelo Custódio Correia. Se de um lado o Presidente cabano desejava assegurar a defesa de Belém, de outro o Capitão Pedro da Cunha buscava o apoio da população, que começou a procurar refúgio nos navios de guerra. Foram para lá até mesmo oficiais da Força Terrestre.

Contando com o apoio da Esquadra, de um pequeno número de elementos do Exército, dos guardas nacionais e de muitos civis, o Dr. Ângelo Custódio tentou o desembarque para tomar a capital. O Tenente-Coronel João Henrique de Matos foi designado para a missão mas foi contrário à sua execução, depois de verificar os meios em pessoal e em material com que poderia contar. Foi então convocado um conselho de guerra, que resolveu indicar o Major João Roberto Aires Carneiro para comandar a operação, no dia 12. Carneiro não obteve sucesso. A tropa foi repelida com grandes perdas em pessoal e material, além de sérias avarias nos navios.

Vitória efêmera das forças legais.

Os acontecimentos no Pará ressoaram na capital do Império e o Ministro da Guerra José Félix Pereira Pinto Burgos foi criticado no Parlamento por causa da situação das forças terrestres na área. Na verdade as dificuldades eram de grande monta. Impunha-se reorganizar e reequipar o Exército de forma a obter disciplina e eficiência, tornando-o apto a manter a ordem interna e a integridade nacional.

As autoridades tinham problemas em toda parte e pareciam relegar a segundo plano o caso da longínqua Província que dia a dia mergulhava mais fundo no caos, levada de um lado pela falta de visão dos governantes centrais e de outro pelas ambições políticas locais.

O Marechal Manuel Jorge Rodrigues foi nomeado Presidente da Província e Comandante das Armas a 10 de abril de 1835. Embarcou a bordo da fragata Campista, comandada pelo Chefe-de-Divisão John Taylor, incumbido de chefiar as forças navais; levava um contingente de 50 homens com material bélico. As novas autoridades chegaram a Belém em 9 de junho e grande número de pessoas, inclusive cabanos, apressou-se em cumprimentá-los a bordo. Vinagre, premido pelas circunstâncias, manifestou o interesse de transmitir o cargo, alegando retê-lo a contragosto. Realmente parecia disposto a renunciar, apesar da resistência dos que o cercavam, temerosos de represálias do Presidente, que era português de nascimento.

Finalmente a 25 de junho, após várias conferências, o Presidente recebeu o governo e a cidade entrou em festa. De imediato foram tomadas providências para a pacificação. Substituíram-se as tropas cabanas por forças legais nas diversas unidades.

A situação dos corpos de tropa era precária. A munição e o armamento em poder dos cabanos não foram restituídos, conforme havia sido combinado, mas sim levados clandestinamente para o interior. O armamento devolvido, em pequena quantidade, estava imprestável e a munição era muito reduzida. As forças legais dispunham de 500 a mil homens, incluindo a força naval, computados os 17 soldados do 5º Corpo de Artilharia, os 45 do 4º BC e os 18 do 5º BC, incorporados na substituição de governo. Os cabanos ficaram com aproximadamente 3 mil armas, inclusive canhões. A fim de atender às necessidades urgentes de segurança criou-se um corpo de voluntários, que foi denominado Voluntários de D. Pedro II.

Retomada de Belém.

As tentativas do Presidente de levar ordem aos cabanos e integrá-los à família provincial não lograram êxito. Antônio Vinagre, à frente de numeroso grupo de cabanos, tomou o rumo do sertão; possuíam armas e munições. Concebeu o plano de invadir o município de Vigia e o executou de surpresa, sacrificando muitos inocentes. Os vereadores e outros principais do município refugiaram-se no Trem de Guerra (depósito). Senhor da situação, Antônio Vinagre exigiu a rendição, que aceitaram mediante promessa de respeito às suas vidas. Tão logo puseram-se fora do refúgio, uma descarga dos cabanos os liquidou. O sacrifício dos inocentes revoltou a opinião pública e o governo ordenou a prisão de Francisco Pedro Vinagre e de outros chefes cabanos que permaneciam despreocupados na capital. As severas medidas irritaram os rebelados, e os chefes que escaparam às medidas punitivas - Antônio Vinagre, Eduardo Nogueira (Angelim), e Geraldo Nogueira, irmão de Angelim e conhecido como Gavião graças a seu temperamento feroz, temido até pelos próprios cabanos - determinaram represálias e a retomada de Belém.

Novamente a cidade transformou-se em praça de guerra. Os poucos recursos disponíveis impediram uma ação ofensiva capaz de exterminar os grupos sediciosos e operar em conjunto com a força naval, no interior da Província.

No início de agosto de 1835, Antônio Vinagre intimou o Marechal Manuel Jorge Rodrigues a libertar seu irmão e os demais cabanos, sob pena de invadir a cidade com 3 mil homens. A 14 de agosto a promessa foi cumprida. Os cabanos organizaram-se em três colunas e dirigiram-se à capital. No fim do primeiro dia de combate, os rebeldes tomaram parte da cidade, tendo morrido Antônio Vinagre. Destacou-se na luta o Capitão Joaquim Rodrigues de Andrade, que defendeu com bravura o Arsenal de Guerra. A 22 de agosto, a situação estava insustentável devido às perdas sofridas pelas forças legais que estavam praticamente sitiadas. Um conselho de guerra apresentou a sugestão de que o Presidente devia retirar-se com a tropa e com alguns civis para bordo da Esquadra. Após relutar, o Marechal acabou concordando e, na madrugada do dia seguinte, realizou-se a operação, com sucesso. O governo estabeleceu-se na ilha de Tatuoca, iniciando-se o bloqueio dos portos.

Eduardo Nogueira, o Angelim, de apenas 21 anos, a 26 de agosto foi aclamado terceiro Presidente cabano e começou desde logo a enfrentar sérias dificuldades para manter a disciplina: campeava a desordem e os saques eram freqüentes. Em setembro, o governo central tomou várias providências para facilitar a ação das autoridades civis e militares da Província. As tropas foram reorganizadas e começaram a intranqüilizar os cabanos que enfrentavam dias difíceis devido à incapacidade dos chefes, ao bloqueio naval e aos graves desentendimentos dentro de seus quadros.

Reforços, finalmente.

Os primeiros contingentes expressivos para combater os sediciosos chegaram em dezembro de 1835. Eram dois batalhões de caçadores e uma companhia de artilharia sob o comando do Major Joaquim José de Sousa. Traziam também gêneros e material bélico, em boa quantidade. Além desses meios, uma coluna de 100 homens enviada do Ceará começou a agir na região de Turiaçu. Em Mazagão também se preparou uma expedição de 400 homens sob o comando do Capitão João da Nóbrega. Em janeiro de 1836 juntou-se a tropa do Major Monterojo, estruturada no ano anterior, em Macapá, com um contingente de 120 milicianos.

Dispondo de tropas preparadas para operações terrestres e contando com o auxílio da força naval, o Marechal Manuel Jorge Rodrigues encetou vitoriosas incursões contra os focos cabanos, no interior. Os rebeldes foram vencidos em Chapéu Virado, Colares, Vigia, Curuçá e Vieira Vale.

General Andréa.

Em novembro de 1835, o governo central nomeou o Brigadeiro Francisco José de Sousa Soares de Andréa e o Capitão-de-Fragata Frederico Mariaht em substituição ao Marechal Rodrigues e ao comandante John Taylor, respectivamente. Os novos chefes receberam reforços em pessoal e mais alguns vasos de guerra e assumiram suas funções a 9 de abril. Trazendo eficiente equipe, Soares de Andréa iniciou a reorganização dos efetivos de que dispunha, 1.500 homens, dos quais aproximadamente 500 se achavam guarnecendo as posições de onde os cabanos haviam sido desalojados.

O novo Comandante das Armas determinou o máximo sigilo na preparação da tropa, evitando qualquer ligação com elementos locais. Prosseguiu com as expedições aos diferentes pontos de reunião dos amotinados, conseguindo obter várias vitórias, e estabeleceu operações conjuntas com a Esquadra, a partir dos limites com o Maranhão. Foram retomadas as vilas de Vizeu, Bom Intento, São Domingos e outras localidades.

Isolados e enfrentando grandes dificuldades em Belém, sem dispor de alimentos e munições, com sérias divergências entre os subordinados, Angelim e outros chefes decidiram oficiar ao Brigadeiro Andréa propondo anistia para todos os cabanos, inclusive os presos. Uma carta do bispo da cidade reforçou a solicitação. Andréa, ciente da fraqueza, aceitou o diálogo, afirmando, no entanto, não ter competência para tomar tais medidas, prometendo porém propô-las à Assembléia Geral. Acrescentou que cumpria ordens rigorosas do governo para pacificar a Província. Sugeriu aos rebeldes que abandonassem a cidade e se estabelecessem em local predeterminado, até a decisão da causa. Em entendimentos subseqüentes escolheu a fazenda do Carapiru para a permanência provisória dos cabanos, responsabilizando-se por deixá-los passar levando o que bem entendessem, devendo apenas o chefe apresentar a relação das pessoas que o acompanhavam e a data do movimento. O local desagradou aos cabanos, pois previram as dificuldades que ali teriam e as vantagens que a tropa legalista obteria sobre eles.

Andréa, por outro lado, manteve-se firme, informando que dessa forma as coisas permaneceriam como antes. A ameaça de os revoltosos incendiarem Belém não mudou sua posição de intransigência, fato que levou o pânico aos bandos rebeldes. Estes lançaram então uma proclamação determinando o abandono da capital e a reunião no interior, mas prometendo voltar a sitiar Belém caso não se aprovasse a anistia. Foi repelida uma nova exigência feita a Andréa, afirmando o Brigadeiro que a retirada de Belém deveria ser tratada com mais pormenores. A par disso preparou-se a operação de retomada da cidade pelas forças legais.

Belém definitivamente tomada.

Decididos a abandonar a cidade, os rebeldes abriram fogo contra um navio em Pedreira, na madrugada de 13. Determinou-se então o desembarque das forças legais, com o apoio de intenso fogo naval. Os insurretos, utilizando um sem-número de pequenas embarcações dirigiram-se em tumulto para seus locais costumeiros de abrigo, perseguidos pelas embarcações da Marinha. O chefe Angelim refugiou-se no vale do rio Acará. As forças legais iniciaram a limpeza da cidade e a reorganização da vida administrativa da Província.

Árdua perseguição aos cabanos.

A retomada de Belém trouxe novo ânimo às autoridades governamentais que estavam empenhadas na operação mais demorada - livrar a população dos saques de grupos rebeldes que infestavam o interior, inclusive Marajó. No interior, o cabano sentia-se à vontade e, muitas vezes, contava com o auxílio do povo, por coação ou por identidade de propósitos. Somavam-se a este fato as condições hostis do meio físico que dificultavam a operação das unidades legais.

Conhecedor dos problemas da região, Andréa solicitou ao governo central os meios necessários ao restabelecimento da normalidade na Província, buscando com providências acertadas promover a prosperidade local. Com tropas insuficientes, em número e qualidade, com equipamento e armamento deficiente e necessitando de barcos a vapor para aumentar a mobilidade das forças, mesmo assim lançou-se contra os derradeiros focos subversivos. Iniciou o reconhecimento e a busca de informações sobre as concentrações rebeldes, sabendo assim que o principal grupo, comandado por Angelim, se estabelecera em Turi, às margens do Acará; em Marajó, bem como em Breves, em Almeirim e em outras localidades do Baixo Amazonas os guerrilheiros haviam sido batidos. Organizaram-se várias expedições que obtiveram sucesso, como em Moju e Boca do Acará, por exemplo, sem contudo conseguir eliminar Angelim e o numeroso grupo. O lento desenrolar destas operações preocupou o governo provincial, levando-o a reclamar junto ao Ministro da Guerra o estabelecimento de prefeituras militares, de comandâncias e de subcomandâncias em várias localidades (como Rio Negro, Santarém e outras) e o envio de oficiais superiores para a Província. Em agosto, os insurretos foram derrotados em Marajó, novamente, e na vila do Rio Negro, em operações combinadas com a Esquadra. A vila de Oeiras foi retomada.

Prisão de Angelim.

Em fins de agosto e no princípio de setembro chegaram informações sobre o grupo de Angelim, homiziado em Acará e reforçado com elementos de Félix Gonçalves e Manuel Maria. Seguindo instruções do Presidente, as forças legais montaram uma operação conjunta para exterminar de vez os sediciosos. Cuidadosamente planejado e executado, o envolvimento dos cabanos ocorreu no vale do rio Pequeno, nas proximidades do lago Porto Real, onde Angelim e outros chefes foram aprisionados, a 20 de outubro de 1836. A operação infligiu grandes perdas ao movimento, sendo que muitos de seus membros desertaram.

Prolongada pacificação.

As operações de limpeza continuaram. Em dezembro Santarém foi retomada. Novas preocupações passaram a afligir as autoridades provinciais em 1836 - o apoio emprestado aos revoltosos pelos franceses. De fato, como a França reivindicava grande parte do território setentrional da Província do Grão-Pará, uma possível sucessão só poderia favorecer as pretensões francesas. A Cabanagem, por isso, representou um sério perigo para a integridade nacional.

No decorrer dos anos de 1837 e 38 prosseguiram as operações contra os derradeiros focos rebeldes, em plena desintegração. O Brigadeiro Andréa, em abril de 1839 transmitiu o cargo ao novo Presidente nomeado, Dr. Bernardo Sousa Franco, paraense filiado à corrente liberal e que procurou obter a conciliação, embora prosseguissem as operações militares. Apesar de conseguir anistia para os sediciosos, estes continuaram a agitar o interior da Província.

Em fevereiro de 1840 assumiu a presidência o Dr. João Antônio de Miranda. Dotado de espírito conciliador, conseguiu desativar inúmeros focos, incorporando os cabanos à comunidade paraense e incentivando as atividades econômicas.

O início do governo pessoal de D. Pedro II abriu uma era de paz e prosperidade para a nação. O Grão-Pará estava inteiramente pacificado. graças aos esforços das forças legais.

相关资料

相关阅读