葡语阅读辅导:虚无代表全部(2)
Tudo o que se pega volta automaticamente para o dono no prazo estipulado, incrivelmente curto. Nas finan?as cósmicas, o giro do capital dura bilionésimos de segundo. As partículas que surgem somem quase imediatamente. Por isso o nada parece vazio: quem olha de relance n?o vê as transa??es e pensa que o lugar ficou vago o tempo todo. Só quando os físicos passaram a olhar o espa?o com a aten??o necessária, usando aceleradores de partículas e monitorando com imensa precis?o o que acontece após uma colis?o, come?aram a perceber as entradas e saídas de matéria na contabilidade do vácuo. Mas ainda n?o se sabe que tipo de moeda está guardada no Banco Central do Universo – em outras palavras, ninguém entende bem como funciona toda aquela matéria escondida. Isso porque os empréstimos já chegam ao espa?o usual convertidos em moeda comum, ou seja, na forma de partículas conhecidas – como os elétrons, prótons, fótons e similares. Ninguém os viu na forma como s?o normalmente. Nesse ponto, Odenwald tem raz?o. Estamos apenas come?ando a mexer com algo muito grande que n?o entendemos bem. Afinal, n?o é fácil emprestar partículas do nada. Elas surgem e tornam a sumir bem antes de percorrer uma distancia equivalente ao diametro de um núcleo at?mico. Daí por que o nada demorou tanto para ser identificado. Essas subpartículas s?o notadas desde o início do século 20, mas naquela época apareciam em quantidades insignificantes – ninguém desconfiava que fossem t?o importantes. Por sorte, o próprio Universo se encarregou de iluminar um pouco o alvo dos detetives. Foi quase sem querer, em uma pesquisa realizada com telescópios no Chile e em outras partes do mundo, em 1997. A idéia era verificar se a expans?o do Universo perdia for?a. Só para lembrar, o cosmo nasceu há 14 bilh?es de anos numa explos?o apelidada de Big Bang, e de lá para cá vem crescendo. A expectativa, naquela época, era verificar que a expans?o já estivesse mais lenta. Em vez disso, os astr?nomos viram que ela está acelerando cada vez mais. Ninguém conseguia enxergar qual motor poderia estar expandindo o cosmo inteiro. A única possivel explica??o – tente adivinhar – é que todo o nada escondido entre a matéria a esteja empurrando. Todos os dados coletados desde 1997 confirmam essa hipótese, indicando que a acelera??o cósmica pode ser uma das maiores descobertas de todos os tempos. As porcentagens da composi??o do Universo s?o a demonstra??o mais espetacular de que o nada é um po?o sem fundo, cheio de energia cósmica cristalizada. Ops, energia cristalizada? Ninguém falou que ia ser simples – você come?ou a ler porque quis. Pulemos para outra analogia – chega de economia. Pense na água. Quando a temperatura baixa, seus átomos se mexem menos, acalmam-se, e suas propriedades mudam: ela vira gelo. Os físicos acham que algo parecido aconteceu com o nada. No come?o, quando o Big Bang deixou o Universo quente à be?a (sua temperatura, em graus Celsius, se escreve com o 1 seguido de 30 zeros), o nada ainda n?o existia. O que existia eram partículas bem parecidas com os prótons, elétrons, nêutrons e fótons de que o tudo é feito – pequenos peda?os de matéria se movendo em alta velocidade. à medida que o Universo foi esfriando, essas partículas se acalmaram, como ocorre com a água quando congela. O nada é o resultado disso – é essa energia cristalizada. Quando ela acalmou, ficou indetectável. E, quando um físico provoca uma trombada cósmica num acelerador de partículas, a energia liberada é t?o enorme que agita de novo o pedacinho do nada, fazendo-o deixar de ser nada. O cosmo cresceu muito desde o Big Bang e seu calor, com o tempo, se diluiu. Hoje a temperatura média do Universo é de 270 graus negativos. O nada está congelado desde segundos depois do Big Bang, quando a temperatura caiu para pouco mais de 1 trilh?o de graus. Em poucas palavras, isso significa que a matéria de que ele é feito – seja ela qual for – simplesmente sumiu. Passou a n?o ter a menor interferência no que acontece à sua volta. Por isso é que, no Universo de hoje, ela é... nada. Quer dizer que o nada está mortalmente quieto: armazenou a imensa energia do Big Bang e acomodou-se. Virou o esqueleto do cosmo. Mas é exagero dizer que o nada sumiu para sempre. Primeiro porque a acelera??o cósmica está aí, mostrando que pode haver um resíduo do nada ainda ativo. Depois porque, como acontece com o gelo, basta reaquecer o vácuo para que a matéria-esqueleto saia do seu abismo para o andar de cima do Universo. Até hoje, desde que, em 1930, come?ou-se a fazer experiências com os precursores dos aceleradores de partículas, o equivalente a 1 863 272 195 prótons foram trazidos do nada – uma insignificancia. N?o conseguimos ainda provocar o aparecimento de peda?os maiores, que poderiam nos ajudar a descobrir do que é feito o nada. A primeira tentativa mais ousada de mexer nele está em curso há três anos, em uma máquina de 360 milh?es de dólares, instalada no Labotório Nacional de Brookhaven, nos Estados Unidos. Chama-se Colisionador Relativístico de íons Pesados, e sua fun??o é fazer núcleos do átomo de ouro colidir a quase 1 bilh?o de quil?metros por hora. Isso eleva a temperatura no ponto de colis?o a 1,5 trilh?o de graus Celsius, o suficiente para for?ar um pedacinho do nada a mostrar sua face. Foi justamente essa máquina que acendeu a luz de alerta para Odenwald. Ele acha que existe certa falta de respeito diante do desconhecido, como se tudo o que pesquisamos fosse para o bem e n?o houvesse lugar para o mal dentro do conhecimento. Tudo bem: mesmo com cálculos aproximados, dava para saber que a chance de um acidente em Brookhaven era praticamente nula. Afinal, ela só é capaz de abrir uma torneirinha de energia pouco maior que o diametro de um átomo de ouro, ou seja, 100 mil vezes menor que 1 milímetro. Que mal poderia haver? Que tal uma rea??o em cadeia? As bombas at?micas também come?am a vomitar energia a partir de uns poucos átomos de uranio. Só que essa energia desequilibra outros átomos e assim por diante, numa escalada cujo resultado conhecemos bem. Em Brookhaven a situa??o seria infinitamente pior, porque as rea??es nucleares, dentro das bombas, afetam apenas o uranio. Mas a energia do vácuo é universal, n?o tem fronteira – ela está em cada milímetro de tudo. Poderia passar do ouro para as paredes do colisionador, para o solo e para o planeta inteiro. Poderia vazar pelo vácuo entre os planetas. Foi isso que o teórico Frank Wilczek, da Universidade Princeton, disse casualmente numa entrevista. Alguns dias depois, deu no New York Times: "Máquina do Big Bang poderia destruir a Terra". Isso for?ou os pesquisadores a refazer todos os cálculos. No final, n?o havia mesmo risco. Mas Odenwald acha que n?o aprendemos ainda a li??o de humildade que a ciência imp?e. N?o apenas porque mostra como somos insignificantes diante do cosmo: para ele, o que mais faz falta é respeito pelos seus mistérios. Algo que os incas, que viam constela??es nos espa?os sem estrelas do céu, consideravam t?o importante quanto o conhecimento em si. 相关资料 |